domingo, 6 de fevereiro de 2011

Construtora atrasa entrega de condomínio

Tenda transformou em pesadelo o sonho da casa própria de aproximadamente 800 famílias
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Apesar de ostentar o slogan “Construindo felicidade”, a construtora Tenda transformou em pesadelo o sonho da casa própria de aproximadamente 800 famílias que compraram apartamentos no Residencial Dois de Julho Life, empreendimento que integra o programa do governo federal “Minha Casa Minha Vida”, localizado na Avenida Aliomar Baleeiro, no bairro de Pirajá, próximo ao Cemitério Bosque da Paz. Oinício da entrega das chaves estava previsto para março de 2009, com possibilidade de, no máximo, seis meses de atraso. Porém, quase um ano depois, os clientes que participam do financiamento da Tenda ainda não receberam os imóveis – que custam cerca de R$ 80 mil – e amargam histórias marcadas pelo descaso e pelo desrespeito.



Em novembro de 2009, em comunicado à imprensa, a empresa informava que a obra estava concluída e que oHabite-se estava previsto para o mês de dezembro. Na nota, a construtora garantiu que iria arcar “com as penalidades decorrentes do atraso superior à carência com o cálculo de multa de 0,5% ao mês ou fração de mês”. De acordo com o site da Tenda, que atua junto ao público de baixa renda, a empresa foifundada em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, em 1969. Tem projetos imobiliários em cinco cidades da Bahia: Lauro de Freitas, Camaçari, Feira de Santana, Valença e Salvador. Na capital, os empreendimentos estão espalhados pelos bairros do Imbuí, Itapuã, Jardim das Margaridas, Pirajá, São Cristóvão e Jardim das Margaridas.

Nos últimos tempos, não são poucas as queixas envolvendo o descumprimento dos prazos de entrega de empreendimentos da construtora. O Jornal da Metrópole questionou a assessoria de comunicação da Tenda sobre qual seria a previsão para a entrega dos apartamentos e também para esclarecer os motivos do atraso. Por e-mail, a assessoria de comunicação da Tenda limitou-se a informar que a assembleia geral de implantação do Residencial Dois de Julho seria realizada ontem e que, a partir de hoje, 5/2, a entrega das chaves começaria a ser agendada com os clientes. É ver para crer.

Informações desencontradas - O desencontro de informações também prejudicou a desenhista Flávia Santana. Ela foi sucessivas vezes à agência da Caixa Econômica Federal do bairro da Pituba para assinar o contrato de financiamento, e sempre o responsável pela unidade dizia que a documentação ainda não estava liberada. “Só depois que eu perdi aquele tempo todo um funcionário da Tenda conseguiu descobrir que a agência da Pituba não eramais conveniada com a construtora”, protesta Flávia.

Conforme lembra o webmaster Marcos Cruz, os funcionários afirmavam, à época do lançamento do condomínio, que uma via seria construída ligando a entrada do conjunto residencial à Avenida Paralela. Há pouco tempo, os clientes descobriram que, na verdade, a pista faz parte das obras executadas pela construtora do Condomínio Alphaville.

Quem casa quer casa - Para além das dores-de-cabeça e indignações causadas pelos desrespeitos com que são tratados na condição de consumidores, a demora na entrega dos apartamentos também traz como consequência o adiamento de sonhos pessoais e realizações profissionais. “Só não casei ainda por causa do apartamento”, lamenta a desenhista Flávia Santana. Um cliente da Tenda, que preferiu não se identificar, atualmente está morando de aluguel com a esposa e os dois filhos. “Enfrentei imensas dificuldades financeiras para bancar o valor do aluguel e as prestações cobradas pela construtora, além dos diversos impostos e gastos com documentação do novo apartamento”, relata.

Situação complicada também vive a mãe de Silvoney Silva, que comprou um dos imóveis da Tenda no Residencial 2 de Julho Life. Ela mora na cidade de São Francisco do Conde e cursa enfermagem em uma faculdade privada de Salvador. Todos os dias, é obrigada a viajar de ônibus para assistir às aulas, o que aumenta o cansaço e acaba prejudicando o aprendizado. “Aguardamos este apartamento desde março de 2009. Compramos para que a minha mãe pudesse estudar com tranquilidade em Salvador”, ressalta Silvoney.

‘A Tenda mentiu em todas as etapas’ - O contador Márcio Roberto, 35 anos, casado, resolveu investir no empreendimento, mas até agora não pôde ir morar com a esposa no novo lar. Revoltado, ele resume o processo: “A Tenda mentiu em todas as etapas, desde quando iniciamos a compra”. O contador afirma que os apartamentos já estão prontos, assim como a ampla infraestrutura do condomínio, que inclui área verde, brinquedoteca, parque infantil, quadra poliesportiva, salão de jogos, academias, salão de festas, dentre outros. A dúvida é saber por que, então, o empreendimento ainda não foi liberado.

Márcio lembra que a via-crúcis começou em 2008, quando funcionários da empresa ligavaminsistentemente para ele antes do prazo de vencimento, cobrando o pagamento do lance inicial. Para convencer os clientes sobre as potencialidades do condomínio, a Tenda prometia “mundos e fundos”.

Seguindo a rotina de mentiras da construtora, em setembro de 2008, Márcio recebeu a informação de que teria de quitar 20% do valor da compra com a máxima urgência, pois os apartamentos ficariam prontos antes da data prevista. O contador juntou as economias e cumpriu o combinado. Pouco tempo depois, prepostos da Tenda afirmaram que o imóvel não seria concluído antes do prazo: “Me disseram que eu antecipei o pagamento porque quis”.

A incompetência e a falta de preparo dos funcionários são apontadas como os maiores causadores de dores-de-cabeça dos clientes da Tenda. “Se você ligar 10 vezes por dia e falar com 10 funcionários diferentes, cada um vai tentar te enrolar dizendo um motivo diferente para justificar o atraso na entrega dos apartamentos.

Ninguém da Tenda se preocupa em esclarecer o que está acontecendo. Uma vez, me ligaram de um celular da empresa e logo depois eu retornei para esclarecer a dúvida. Quem atendeu disse que o número não tinha nada a ver com a construtora”, lembra Márcio Roberto.

Compradores isentos pagaram taxa - Grande parte dos compradores do Residencial Dois de Julho Life já passou por todas as etapas burocráticas legais.

O contador Márcio Roberto, por exemplo, efetuou o pagamento do Imposto sobre a Transmissão Inter Vivos (ITIV), assinou o contrato de compra e venda com a Tenda e também regularizou a documentação para o financiamento na Caixa Econômica, com posterior abertura da conta corrente no banco. A quitação do ITIV também foi motivo para a revolta dos clientes, pois somente depois os compradores ficaram sabendo que são isentos deste tributo. Isto porque o Residencial 2 de Julho faz parte do programa “Minha Casa Minha Vida”.

“Este imposto custou cerca de R$ 2,6 mil. Só poderemos solicitar a restituição na Prefeitura quando a Tenda liberar o nosso contrato de compra e venda do apartamento, que já foi assinado há mais de 20 dias, mas até hoje não recebemos de volta”, protesta Márcio. De acordo com os clientes, a Tenda culpa

a Prefeitura de Salvador pelo atraso, devido à demora para liberar o Habite-se, documento que autoriza a utilização de umimóvel para fins de habitação, comprovando que as obras do projeto foram executadas em conformidade com as exigências legais.

Para completar o arsenal de reclamações dos clientes, os responsáveis pela Tenda teriam escolhido arbitrariamente a empresa que irá administrar o condomínio, descumprindo acordo feito com os futuros moradores de que esta decisão somente seria tomada na primeira reunião entre os condôminos, na qual também vão ser eleitos o síndico, o subsíndico e o conselho fiscal.

Fotos: Ulisses Dumas - Jornal da Metrópole

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